Se você é alcoólatra, ou sofre de adicção a outras drogas, a outros vícios – melhor dizendo: se sua escravidão tem a ver com álcool, outras drogas ou outros vícios, talvez esta oração lhe diga algo…
Pai,
Sei que tu és.
Sei, também, que, se existo, é porque
Tu és em mim.
Assim como o mar é o mar,
Assim como as ondas também são mar,
Assim como as gotas que cospem dos rochedos
Também são um pedaço do mar,
Assim também,
Embora eu seja um ser humano,
Tu és em mim.
E, se tu és em mim,
Eu sou uma faísca de ti.
Tudo criaste.
E viste que tudo era bom.
Como fui criado por ti,
Só posso ser bom.
O Sol, a Lua, as águas,
Tudo o que criaste é bom.
O Sol, com sua realeza,
Não foge um milímetro
Do rumo que traçaste para ele.
E, como viste desde o minuto um,
Esse rumo era bom.
As águas, as aves, as cores,
Tudo segue o rumo que traçaste,
Rumo que viste que era bom.
Eu, porém, pequeno que sou,
Querendo brilhar mais do que o Sol,
Querendo dominar mais do que as águas,
Querendo ofuscar mais do que as cores,
Esqueci que me tinhas criado à tua imagem,
Esqueci que, como disse teu Filho,
Teu reino mora dentro de mim.
Então, fugi.
Fugi da vida,
Fugi de mim,
Fugi daquele eu que tinhas feito bom.
Como, porém, sempre estiveste em mim,
Para não ouvir teu chamado de Pai,
Precisei fechar meus ouvidos com vinho.
E o vinho entrou em mim como música.
Claro que fizeste o vinho bom.
Mas para mim ele virou um demônio.
Mais que isso: ele virou meu amo.
E com o vinho fiquei maior do que o Sol,
Voei mais alto e livre do que os pássaros.
Meu lindo porvir parecia mais vasto do que as águas,
Embora a luz da manhã e da sanidade
Deixasse à mostra o vazio em que eu afundava.
E, para afastar o desespero desse vazio,
Voltava a afundar, cada vez mais, no meu pântano,
Levando comigo tudo de bom que criaste em mim.
E assim fui me enganando,
Afastando-me de ti,
Afastando-me dos meus,
Afastando-me de mim.
Até que me vi só,
Completamente só.
Acordado, então, como de um pesadelo,
Percebi que da minha solidão ainda brotava algo:
Tua voz chamando: filho !
E, sem forças para pedir perdão,
Sem idéias para rogar piedade,
Sem olhos para ter esperança,
Humildemente, eu gritei:
Pai !
Por Odair Bruzos